Saberes em contexto?

Se a filosofia da tecnologia tem muito a nos dizer para pensarmos aspectos da educação científica e tecnológica, o campo da comunicação social, e, mais especificamente, dentro dele, o campo da comunicação científica também tem nos trazido ideias muito importantes. Ambos permitem deslocar, reformular, ressignificar problemáticas e visões já sedimentadas no nosso campo. Discutimos nesta semana o texto de Brain Wynne. Ele vai discutir justamente a relação entre ciência e público. Trouxe-o para fazer funcionar a ideia de que nosso trabalho como educadores em ciência está envolvido inescapavelmente nessa relação. Portanto, a problemática colocada por Wynne também é nossa. E sendo, assim, suas ideias pode agir como subsídios para pensar a produção e utilização de tecnologias digitais de comunicação e informação no campo da educação científica e tecnológica.

Como apontado em aula por alguns alunos, há convergências entre a visão de Wynne, do ponto de vista da problemática da compreensão pública da ciência, sua área-foco de trabalho, e concepção filosófica de Feenberg sobre a tecnologia. As últimas linhas de seu texto, “Saberes em contexto”, mostram isso quando colocam a questão da relação entre compreensão pública da ciência e democracia questionando sua estrutura de produção que intensifica a propriedade e o controle centralizado.

É importante não confundir críticas como as Feenberg e de Wynne, e de muitos outros autores,  com críticas à ciência ou à tecnologia, e sim, compreendê-las como críticas à não democratização da ciência e da tecnologia. É justamente porque esses autores consideram C&T algo extremamente importante que vão discutir a necessidade, os limites e possibilidades à sua democratização.

Wynne no entanto não está preocupado exatamente com a educação. Não é este seu campo de problematização e reflexão, e sim, com a compreensão pública da ciência.  Mas explicito minha intenção de, ao propô-lo como leitura, colocar a possibilidade de pensar se a questão da compreensão pública da ciência não passa por questões da educação científica e vice-versa.

Wynne tem publicado em revistas como a européia Public Understanding of Science, é membro do Comitê de Ciência na Sociedade da Royal Society of London e tem estudado as relações entre experts e público em geral, dentre outros temas.

Este texto de Wynne, publicado originalmente em 1991, na Science, Technology and Human Values (por sinal, uma revista não tão pública, por paga, e cara) se encontra na excelente coletânea de traduções organizada por Luiza Massarani, Jon Turney e Ildeu de Castro Moreira, intitulada Terra Incognita: a interface entre ciência e público, de 2005. O livro conta ainda com artigos de Jean-Marc Levy-Leblond, Carol Rogers, Jeanne Fahnestock, Steve Miller, Harry Collins e Trevor Pinch, entre outros autores.

Entre as questões que trabalhos como esses nos ajudam a formular sobre nosso próprio trabalho como educadores em ciências estaria esta: não seriam nossas ações como educadores em ciências inseridas nesse processo por uma maior democratização da produção da ciência e tecnologia?

Estamos trabalhando para ensinar ciências, divulgar ciências ou democratizar a ciência?