Diário de campo
mar 9th, 2013 | By Jairo Nunes dos Anjos | Category: Diário de CampoO Colégio em que vou desenvolver minhas atividades de estágio esta situado no município de Bituruna, Distrito de Santo Antônio que fica a 20 km da cidade, no ano de 2012 passou a se chamar Colégio Estadual do campo Irmã Clara, Ensino Fundamental e Médio devido estar atendendo uma parte do interior do município.
As dificuldades encontradas são inúmeras, sendo que por parte dos alunos, as dificuldades como a pobreza, pois fazem partes de assentamentos e suas casas ficam distantes do colégio, sendo que relatos comprovam que muitos viajam até 2 horas por estradas de chão para chegarem à escola. Outro fator curioso é que muitos não tem incentivo nenhum para estudar, mas pelo simples fato de poderem sair de casa, ou por se ausentarem de árduos trabalhos na lavoura por meio período assim se fazem presentes todos os dias sem terem sequer falta no ano, a menos que as chuvas castiguem a região e danifiquem as estradas.
No dia 05/03/13 das 16:45 as 17:00 hs iniciei minhas atividades de estágio no Colégio Estadual do Campo Irmã Clara, Ensino Fundamental e Médio, quando cheguei à escola durante a primeira hora fui convidado pelo diretor para auxiliá-lo em algumas tarefas relacionadas com informática, pois a escola carece de um profissional desta área, e como sou técnico costumeiramente faço serviços como amigo da escola em horários vagos, pois há também um problema de falta de espaço e o laboratório de informática fica junto com a sala dos professores, e como o fluxo de gente é muito grande sempre há computadores com problemas, e nem todos funcionam.
A escola possui um prédio que aos poucos esta sendo aumentado, pois quando ela foi inaugurada o número de alunos era baixo, hoje, no entanto devido a vários assentamentos do MST o número de alunos vem aumentando gradativamente o que causa a falta de espaço. Hoje podemos descrever esta escola como intermediária, pois possui cerca de 700 alunos, comportados em dois turnos, em 10 salas de aula, com apenas 2 banheiros um para alunos e professores e outros funcionários da escola, e outro para alunas e professoras assim também como para outras funcionárias, o que vem causando certo desconforto por parte dos profissionais. Possui ainda uma secretária, uma biblioteca, um almoxarifado, uma cozinha e uma sala de professores instalada no laboratório de informática.
Diferentemente de alguns colegas que estão dando continuidade no projeto aplicado na disciplina de Didática, e por uma questão de aprimorar e dar continuidade ao trabalho já realizado eles assim o fazem como seqüência em seus estágios eu, no entanto não conto com esta parte, tendo em vista que validei a disciplina.
Outra questão que vale ressaltar, é que a escola onde estou realizando o estágio também é onde leciono a disciplina de matemática a mais de três anos, visto que sou professor de matemática desde 2002. Trabalhei também por dois anos na extinta escola primária multisseriada, parece algo tão distantes de nossas realidades, no entanto aqui em minha cidade faz somente seis anos que este modelo de escola foi completamente substituído por séries normais, o que não é o caso de alguns estados que ainda exercem esta modalidade de educação. Sendo assim possuo um conhecimento amplo em relação à educação, e também em relação ao corpo docente de minha cidade e conseqüentemente um conhecimento bastante estreito com os alunos.
Outro fator que assim defino como diferente de meus colegas é em relação a turma que estou assistindo as aulas do estágio, esses mesmos alunos foram meus educados de matemática no ano de 2010, desta forma defino como uma relação muito diferente, pois os conheço como alunos, e hoje sou aluno como eles participando da mesma aula na disciplina de física, o que se torna muito agradável e rico, pois posso sentir que há um incentivo ainda maior por parte de cada um desses colegas alunos.
TERCEIRA SEMANA
No dia 19/03/13, das 16:45 as 17:00 hs fui para a escola para minha terceira semana de acompanhamento da turma em mais uma aula de física, no entanto como esta escola situa-se em uma localidade do interior, onde para nós professores o acesso é fácil, ou seja, as estradas são asfaltadas, no entanto para todos os alunos esta não é realidade que eles enfrentam todos os dias, ou seja as estradas são de chão, sendo assim neste dia devido às fortes chuvas, a maioria dos ônibus que fazem o transporte escolar não conseguiram fazer o transporte, desta maneira como a turma que estou acompanhando é pequena, obteve um número ainda menor de alunos, apenas quatro conseguiram chegar até a escola. No entanto o professor deu seqüência a aula anterior, devido a ausência da maioria ele deixou o texto o qual estava programado para que fizessem a leitura para uma outra oportunidade retomando a conversa sobre Campo elétrico, deixou os alunos presentes mais tranqüilos quando disse que o tema é bastante abstrato, informando-os que trabalharia o assunto de uma forma bastante voltada para a teoria e alguns experimentos. Disponibilizou a aula em questão para que os alunos fizessem uma tradução de cada palavra desconhecida utilizando um dicionário, e cada palavra que apresentasse significado desconhecido deveria ser escrita no quadro por um aluno de cada vez.
A primeira dúvida veio da palavra campo, e a partir desta muitas outras foram sendo expostas, percebi que os alunos sentem-se mais seguros quando se trabalha com contexto teórico e questões descritivas, e ficam bem mais a vontade em fazer perguntas voltadas para o concreto, ou seja, para o conhecido.
Como a pergunta feita por uma aluna: Professor, eu relacionar campo elétrico que para mim é algo difícil de entender com o que acontece com um imã e um pedaço de ferro esta correto?
Neste momento acabou a aula, o professor não respondeu, mas pediu que ela fizesse uma pesquisa na internet e trouxesse a resposta para toda a turma na aula seguinte.
Outro fator que vejo não ser favorável para os alunos é de a turma ser pequena, pois não há uma constante troca de informações entre os eles, visto que em turmas maiores esta pratica se torna bastante útil, pois percebo que os alunos muitas vezes preferem tirar duvidas com colegas, ao invés de pedir ao professor, pois muitas vezes sentem-se envergonhados.
No dia 22/03/13 as coisas foram bem diferentes do dia 19, como as chuvas cessaram todos os alunos puderam ir para a escola, ao passar pelos corredores cruzando com os alunos vejo uma sensação de alegria em cada um, como citei em outra oportunidade eles dificilmente faltam às aulas, pois o meio período em que ficam em casa são submetidos a árduas tarefas relacionadas ao campo, então preferem estarem todos os dias na escola a estarem efetuando trabalhos designados a eles por seus pais.
Outro fator interessante de nossa escola é o ensino quase integral que a mesma esta oferecendo este ano, tanto debatíamos em reuniões para que este momento chegasse, e sem que percebamos ele esta se apresentado aos poucos em forma de projetos como: esportes (voleibol, futsal), danças (alemã, italiana), musica (percussão) aulas relacionadas ao cultivo e manejo na agricultura,aulas de reforço referente as disciplinas de maior dificuldade apresentadas no turno normal, tudo isso pode ser descrito como umas das conquistas reivindicados pelos professores e atendidas necessariamente nas escolas do campo, onde estão sendo desenvolvidas pelo menos três vezes por semana em contra turno. Outro fator importantíssimo é a alimentação fornecida pela escola, onde a maioria dos alimentos é adquirida de fornecedores da comunidade, onde os mesmo possuem uma espécie de cooperativa e conseguem trabalhar com alimentos orgânicos, o que vem dando incentivo aos produtores e também se consegue atender ao objetivo desta escola que é manter esses alunos no campo fazendo com que os mesmos estudem, mas no entanto permaneçam em suas comunidades, haja visto que apesar de terem que viajar cerca de 100 km todas as noites eles tem a possibilidade de cursar o ensino superior em uma cidade vizinha, onde o transporte é mantido pela prefeitura.