(G1) RELATO: HFC PARA A CONTRIBUIÇÃO QUALITATIVA DO ENSINO DE CAMPO ELÉTRICO

jun 14th, 2014 | By | Category: Diário de Campo, Reflexões

Para lecionar minhas aulas baseei-me em dois temas de investigação, como já havia dito: História e Filosofia da Ciência no Ensino da Física e aplicação de modelos, modelagens e modelizações.
Minha primeira idéia/proposta era utilizar-me dos dois temas simultaneamente mas, em sala; utilizei História e Filosofia da Ciência para lecionar Campo Elétrico enquanto, para tratar de corrente elétrica me apoiei nos modelos e modelizações.
Leciono em um terceiro ano noturno de um colégio de Nova Veneza, pequena cidade que fica nos arredores de Criciúma. Não conhecia a turma (não é a mesma nem de estágio A e nem, de estágio B). Então, pouco antes de lecionar, elaborei um questionário para poder conhecer um pouco as características da turma. Em relação a disciplina de Física, entre aqueles que se identificavam com a disciplina/área e , aqueles que não se identificavam, a proporção foi praticamente 1/1.Entre outras perguntas do questionário, perguntei como eles enxergavam a disciplina, quais as maiores dificuldades e o que consideravam importante. A esmagadora maioria, entre alunos que apreciavam exatas e alunos de Humanas; responderam que o mais importante é aprender a fazer os cálculos.
Notei essa característica, uma turma que ate-se a resolução de cálculos; durante as aulas. Talvez, essa característica venha do fato de que usualmente a disciplina é tratada assim durante algum tempo já, inclusive pelos próprios professores. Então, o aluno vai procurar focar naquilo que lhe é cobrado. E aí , perde-se um pouco da essência dessa Ciência que é a Física. Ainda que tomemos por característica uma física matemática, tratamos de grandezas; grandezas com rico significado que foi construído firmemente durante muito tempo, com a contribuição de muitos pesquisadores/cientistas, grandezas que sofreram com a aceitação de leigos e a resistência da própria comunidade científica; enfim grandezas/teorias firmadas não por um método científico (o que a HFC mostra não existir um método) ou por uma única teoria irrevogável mas, teorias discutidas, melhoradas e baseadas pelos mais diferentes modos de fazer ciência.
Então, comecei a tratar com os alunos uma “típica aula de Física”. Expliquei sucintamente o que era o campo elétrico e, com exemplos que seguiam uma linha cartesiana (do mais fácil ao mais difícil) fui, juntamente com eles; resolvendo os exercícios. Eles interagiram bem. Algo novo para eles (ao menos a reação mostrou-me isso) era a grandeza vetorial. Houve um certo trabalho em ensinar o vetor força e o vetor campo elétrico mas, pelo o que vi posteriormente nas avaliações pareceram ter aprendido. (e até gostado)
Em uma atividade eu pedi para que eles calculassem a intensidade do campo elétrico e, me dissessem o que significa. Muitos, a maioria; me deu definições prontas de livros e/ou internet. E era aí que eu queria chegar, na compreensão da grandeza afinal; é importante aprender a calculá-la mas, precisamos ter ciência do que significa esse número ou então; será apenas um número.
Um acontecimento interessante foi que, durante uma aula, um aluno me perguntou: “O que é intensidade? É tipo força?” Com certeza, compreendi o que ele quis dizer mas, é claro que durante a aula investigativa aproveitei-me disso para explicar e diferenciar, ressaltar porque não poderia utilizar o termo força.
Enfim, na aula de investigação; utilizei de algumas perguntas para que primeiramente pudesse identificar concepções dos alunos e até, através delas e juntamente com a contribuição de cada um, elaboramos uma definição e associação para o campo elétrico. Associamos campo a lugar/espaço (comparando até a um campo de Futebol), eles identificaram que para ter campo elétrico precisava da carga elétrica. Por um instante, havia uma confusão entre Força Elétrica e Campo Elétrico mas, uma das questões fazia menção aos ímãs e o campo magnético então, um aluno disse: “No ímã, existe um ponto ali que você consegue sentir que existe algo ali, a partir daquele ponto e, quanto mais perto do ímã, mais você sente essa força”
Essa contribuição foi excelente para relacionarmos que, para o campo existir não precisamos da “segunda carga”, como na Força que para identificarmos repulsão ou atração precisamos conhecer os sinais das mesmas. Da mesma maneira e de modo análogo, o campo da Terra, ele existe independentemente de colocarmos um corpo a prova deste campo ou não. A outra carga, ou corpo; serve como prova de que este campo existe.
Mostrei para eles como foi o estudo a experimentação da existência do Campo Elétrico e aproveitei até para discutir com eles aspectos da natureza da Ciência, tais como contribuição de cientistas anônimos,evolução de teorias, a contribuição das concepções na Ciência, ou seja;abordar como o conhecimento é construído. E como eles participaram nessa etapa! Até fugiram um pouco da eletricidade/campo elétrico mas, foi rico porque expuseram fatos que conheciam, dúvidas que tinham a respeito de método científico, conceitos, confirmações enfim; aspectos da construção da ciência.
Depois dessa abordagem histórica perguntei se em qualidade, a compreensão de campo elétrico ficou melhor. Alguns hesitaram, diziam que “talvez um pouco”. E é claro que era de se esperar, não esqueçamos que trabalhamos com um ensino construtivista e derrubar ou inserir novas idéias/concepções é um processo que requer tempo,não se faz de uma hora pra outra. O aluno até pode entender aquilo que você mostrou para ele mas, o processo de aceitar e compreender e /ou relacionar vai amadurecer com o tempo e isso também, vai depender de cada indivíduo.
Porém, quando pedi para que novamente me dissessem o que aprenderam em relação a campo elétrico (com as próprias palavras),não precisava ser o conceito em si, mas relações, qualquer característica; a evolução comparada a avaliação inicial foi considerável. Claro, que me refiro a avaliação geral de turma. Alguns casos ainda demonstravam dificuldades, relações incorretas… enfim; problemas que fazem parte do processo de ensino aprendizagem.
Mas, em resumo; nós professores, podemos sim utilizarmo-nos da inserção da História e Filosofia da Ciência para nos auxiliar na melhoria, sob o aspecto qualitativo; do ensino de Física.

P.S.: Utilizei o seguinte artigo (que não está no meu planejamento de ensino inicial) embora tenha lido tantos outros, como orientação para minha aula investigativa:
MAGALHÃES, Murilo de F. SANTOS, Wilma M.S. & outros.Uma Proposta para Ensinar os Conceitos de Campo Elétrico e Magnético: uma aplicação da História da Física. Revista Brasileira do Ensino de Física, Rio de Janeiro, vol.24, no.4, 489-496, Dezembro, 2002.

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2 Comments to “(G1) RELATO: HFC PARA A CONTRIBUIÇÃO QUALITATIVA DO ENSINO DE CAMPO ELÉTRICO”

  1. Simone Sobiecziak disse:

    Olá Camila!
    Quando você comenta que utilizou as concepções dos alunos para discutir o assunto em questão, gostaria de saber se nos seus estudos e preparos de aula, encontrou concepções na história que quando questionou os alunos foram iguais.
    Digo isso, porque quando trabalhei óptica na perspectiva da HFC em primeiro momento coletei com interações discursivas as ideias dos alunos e depois encontrei um vídeo muito interessante, um documentário da BBC o qual contava a história toda da óptica, nesse vídeo os alunos puderam perceber que suas ideias também foram de alguns físicos do passado.

  2. Camila Nart Gonçalves disse:

    Então Simone, não encontrei não. Como tratei campo elétrico, é um conceito que poucos conheciam, ou haviam ao menos ouvido falar. O que eu fiz então: utilizei o campo magnético e o campo gravitacional da Terra como base para que eles pudessem, por si só; terem noções de campo, dos fenômenos de campo. Depois disso, com a HF de campo elétrico fomos juntando a História com as respostas do questionário. Em um primeiro momento, eu pensei em inserir “de primeira” a HFC na aula mas, a ideia de fazê-los pensar em conceitos de campo antes ajudou,e muito; quando foi trabalhado a História em sala. Acredito que eles tenham se sentido mais participativos.

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