Reflexão sobre o ensino de Física
mar 31st, 2013 | By Camila Nart Gonçalves | Category: ReflexõesRealizei meu estágio na E.E.B. HUMBERTO HERMES HOFFMANN – Caravagio, Nova Veneza – SC. Assisti a uma turma do segundo ano do Ensino Médio.
Parti para esse estágio com algumas idéias fixas tais como, para aprender Física o aluno só precisa estudar. Não deixa de ser uma grande verdade mas, agora; nas últimas aulas assistidas e sob a indagação de uma aluna , pensei mais a respeito do assunto.
Sempre parti do pressuposto que aluno que não gosta de Física é porquê, na verdade; não gosta de matemática. Nós, acadêmicos do Curso de Licenciatura em Física, sabemos que não necessariamente precisamos da matemática. A Física, retornando lá na Instrumentação no ensino da Física, tem um contexto histórico, é mais do que descobertas. Nós, sabemos que podemos concluir coisas sob fatos sem precisar recorrer necessariamente a matemática, sabemos que podemos recorrer a outros tipos análise e a conceitos.
Em uma das aulas assistidas, o professor montou a equação que corresponde ao princípio de Stevin partindo de conceitos que ele já havia apresentado anteriormente, procurando destacar mais os conceitos do que a matemática em si. O que observei foi uma rejeição dos alunos a essa forma de apresentação da Física. Eles pareceram não gostar e diziam que “aquilo só complicava”. Lembrei novamente de INSPE, e em nossa obrigação de inserir o contexto para o aluno e , de certa forma desejei que o professor estivesse lá para observar a reação que os alunos tiveram. Mas, muito antes; eu havia aprendido que qualquer mudança pode causar certa estranheza. Essa nova forma de explicar a Física, apegando-se a conceitos pode levar tempo para que o aluno acostume-se. Lembramos de nós mesmos, quando o prof.Henrique nos aplicou um exercício simples de Física e a maioria errou. Nós recorremos diretamente a matemática, não interpretamos a equação, não nos ligamos a um gráfico que representasse o movimento.
Agora mesmo, nós; queremos que esses alunos aprendam (ou engulam) conceitos que eles nunca viram e, que talvez não seja nem tão trivial assim (como na primeira aula, eu achei um absurdo eles não entenderem o que é a densidade).
A cada dia de estágio eu saia pensando em uma maneira de inovar o ensino da Física. Algo que resolvesse o problema da não aceitação da Física por muitos. Acredito que como eu, a maioria das pessoas acredita que uma aula mais modelizada e experimental, resolva. Será?
Eu acredito que quando alguém tem dificuldade em aprender algo, é porquê essa pessoa não aceitou aquilo. O que precisamos fazer para que alunos aceitem a Física. É fácil ensinar algo para alguém que tem aptidão pela disciplina. E o restante? Os outros quase 40 alunos?
Nesse meu tempo de estágio o professor já fez da utilização de recursos tais como softwares para a demonstração de densidade (para aqueles que dizem que a disciplina é muito intuitiva, que precisa ser vista), já utilizou de instrumento para demonstrar o comportamento do líquido em vasos comunicantes, já procurou deduzir fórmulas, exemplificar situações e ainda, vem planejando modelizações. Em cada forma de apresentar a disciplina houve também, reações diferentes dos alunos. Houve aqueles (poucos) que gostaram de saber de onde surgem as equações, aqueles que aceitaram melhor o conceito de densidade depois do software apresentado mas, aqueles que ainda conseguem “ler a Física” em sua forma mais numérica.
Não há nada pronto e que garanta o sucesso do ensino. São alunos com aptidões diferentes e singularidades. Cabe a nós docentes, não nos enraizarmos a uma metodologia fixa, não abandonar uma ideia porque a primeira vez não deu certo. Somos mais do que transmissores de conteúdos, somos mediadores de conhecimento e assim como o aluno, o professor também está em processo de aprendizagem.
Camila, hoje em dia encontramos muitas dificuldades para encontrar uma metodologia que consiga atingir 100% dos alunos de uma sala de aula. Pois existem muitos fatores que dificultam o interesse dos alunos pelo estudo, por esse motivo devemos buscar sempre uma metodologia que consiga pelo menos atingir o maior número de alunos possível.
Sobre o conteúdo observado na escola, você colocou que o professor estava explicando o conceito de densidade. Em sua opinião, como podemos explicar o conceito densidade, sem utilizar equações matemáticas? Será que podemos abandonar totalmente as equações matemáticas, no ensino de física?
Oi Nizilene, pensei no seu questionamento durante a semana e; pensei em uma modelização. Coincidentemente, nesta semana dei uma aula particular; porém de Química. Nessa aula o aluno questionava também o conceito de densidade que pra ele, parecia ainda mais confuso; devido a “fórmula” ser praticamente igual a da concentração. Isso me fez pensar em como nossa disciplina tem que ser completa. Não podemos abandonar a matemática, é a nossa grande ferramenta e nos serve para termos grande noção do que nos é apresentado; no caso ao aluno. A matemática dá ao aluno ao menos uma noção de intensidade das grandezas apresentadas. Porém, Física não é matemática, nossas equações estão diretamente ligadas a conceitos e é muito importante, a meu ver mais importante, que o aluno saiba interpretar esses conceitos. Como no meu caso, tive que me virar para explicar conceitos que tinha “fórmulas iguais” . Precisei enfatizar, fazer o aluno ver ao que cada um correspondia.Densidade seria o volume que uma determinada massa de uma determinada substância ocupa. Ao meu ver, e talvez para muitos pareça fácil entender. Mas temos que procurar enxergar do ponto de vista do aluno.Para começar, a dificuldade deles em entender o que é volume. Sim, no dia da aula ministrada, conversando com alguns deles, eles tinham a dificuldade em entender o que é volume. Para isso usamos de muitos exemplos, como exemplificando por capacidades como caixa, como garrafas, espaços em três dimensões. Depois propomos a eles imaginarem duas caixas de igual tamanho, e assim volume. E pedimos que imaginassem que enchessem uma delas de penas e a outra de pedras, e questionamos quem seria mais pesada. Com isso pareceram aceitar mais o conceito e entender que substâncias diferentes, que preenchem um espaço de um mesmo “tamanho”, possuem massas diferentes devido a densidade de cada uma. Com isso, pensei em fazer uma modelização com eles na qual dessemos para cada um duas caixinhas de igual volume (como eles mesmo denominam, igual tamanho) e também darmos a eles vários “tijolinhos” de isopor e “tijolinhos” de um outro material, madeira por exemplo. Fazê-los preencherem uma caixa com os tijolinhos de madeira e a outra caixa, com “tijolinhos” de isopor. Pesar as caixas (embora nem precise, pois dá pra verificar pelo sentido qual tem maior massa). E assim, demonstrar que massas diferentes ocupam um mesmo lugar, que essa é uma característica de cada substância; a densidade. Dá para brincar com os volumes das caixas e propor, que eles relacionem o volume necessário de isopor para que se atinja a mesma massa de uma das caixinhas de madeira; e assim eles terem mais familiaridade com a noção de como a massa de cada substância se distribui. O que acha da ideia!?
Oi Camila, gostei da sua modelização. Como você falou anteriormente, a matemática também faz parte da física, por isso não podemos deixá-la de lado, mas podemos buscar metodologias, como a modelização, para fazer com que o aluno compreenda a relação matemática envolvida no conceito físico.
Parabéns pela sua ideia.