O que há de errado com as interações discussivas?
mar 31st, 2013 | By Samarone Lourenço | Category: ReflexõesA turma que observo é uma turma de segundo ano do ensino médio do período noturno, são adolescentes na faixa dos 16 anos de idade. Esta é minha primeira experiência em sala de aula e observei uma mudança muito grande de comportamento dos alunos em sala de aula. A referencia que tinha era da escola do inicio dos anos 90. Já tinha ouvido vários comentários de outros professores mas então estou vendo com meus próprios olhos. Os alunos já não tem mais no professor um figura de referencia, distante e respeitável, interagem com ele como se fosse outro colega. No entanto, é exatamente assim que imagino uma aula hoje, bem interativa e discussiva. Então não vejo nenhum problema nisso, muito pelo contrario, isso pode ser muito proveitoso para o processo de ensino-aprendizagem desde de que essa interação seja de forma produtiva o que não é o que acontece. Essa interação é, na maioria das vezes, dispersiva, e em alguns momentos até desrespeitosa para com o professor. Existe um diferencial no fato de ser uma turma do período noturno, onde os alunos geralmente tem outras atividades durante o dia e chegam cansados a noite e mais agitados.
Com relação as aulas de física, o professor trabalha com eles conceito a conceito, a cada aula faixa um conceito novo. O professor da enfase a teoria mas não deixa de trabalhar a matemática envolvida em cada conceito. As dificuldades e duvidas aparecem aos alunos de conceito a conceito, na parte teórica e na matematização, ou seja, tem alunos que assimilam bem um conceito e outro não, outros, em um determinado conceito, tem dificuldades com a teoria e assimilam bem a matematização, já em outro conceito, assimilam bem a teoria e tem dificuldades com a matematização. Por isso as dificuldades são muito particulares de cada alunos e para cada conceito e assim fica difícil pensar em um modelo de aula ideal. Acho que a discussão dos conceitos em sala de aula ajuda a direcionar o conhecimento a cada situação particular de cada aluno. É claro que não se consegue atingir a todos, mas é a mais importante ferramenta que o professor dispõem naquele momento. Os modelos, virtuais ou experimentais, que o professor utilizou em determinado momento também ajudou bastante nessa busca de atingir a todos.
Na avaliação que o professor fez na ultima aula também é possível observar outro fato que coloca uma ressalva nas discussoes interativas, os alunos que mais interagem na sala de aula tiveram um baixo aproveitamento na avaliação, em certas questões mostraram não ter um conhecimento minimo de certos conceitos inclusive sobre algumas situações modelos que foram discutidas com eles diretamente durante a aula. No entanto alguns alunos quietos que não interagiam ou que pouco interagiam tiveram um aproveitamento bem melhor e mostraram ter assimilado bem os conceitos tanto a parte teórica quanto a matemática. Essa avaliação mostrou que a maioria dos alunos não estudam fora da sala de aula e essa é uma peça chave do quebra cabeças do processo de ensino aprendizagem, porque por mais que o professor se prepare com modelos, experimentos, discussões que ajude a acessar em cada alunos suas duvidas e dificuldades com o conhecimento proposto, se ele o aluno não tiver interesse em aprender, em buscar esse conhecimento, fica tudo muito difícil.
Como não sou professor, não sei se posso dar um parecer empírico sobre as interações discursivas em sala de aula e suas contribuições nas avaliações por escrito. A reflexão do colega me deixou um pouco pensativo pois eu sempre imaginei que a participação em sala de aula refletisse, pelo menos em média, nas notas das provas. Infelizmente na turma que observo o professor ainda não aplicou prova (disse-me ele que será apenas uma). O que pude observar foi que alguns alunos se prontificam a interagir não porque estão mais interessados no assunto mas por ser uma característica inata deles e também por questões menos nobres como simular um falso interesse ou mesmo aparecer para a turma, aproveitando para dizer uma gracinha. Assim, alunos mais introspectivos acabam aproveitando mais as explicações do professor ao aluno interventor do que este próprio.
Então, acho que uma questão a ser analisada durante as interações discursivas em sala de aula é a QUALIDADE destas interações. Penso que dificilmente um aluno que provoca a turma levantando questões intrigantes ou elaboradas acabe se saindo mal nas avaliações como um todo.